Você começa a falar devagar e com firmeza. Está surpresa com o modo como vai conseguindo administrar tão bem aquele momento, pois também percebia em si a impressão de que poderia explodir a qualquer momento.  Você diz a seu marido que sabe que ele está tendo um caso com sua melhor amiga. Ele reage. Mal deixa você concluir sua frase. Fala sem parar: nega, inventa mentiras. Logo fica nitidamente confuso, enrolado nos próprios argumentos. Você observa e aguarda seu próprio momento de dizer alguma coisa. A situação é tão clara e óbvia que você consegue se manter focada. Está tensa, mas segue lúcida. Quando seu marido finalmente se cala, você diz: "eu não tinha noção do tamanho do amor que sinto por você e por Mariana". Respira fundo e continua: "Acho que é por isso que, mesmo consumida por uma dor e uma raiva tão grandes, eu ainda consigo me manter sã, agora, aqui, olhando para você, sabendo o que vocês fizeram". Seu marido, que estava ouvindo tudo com atenção, começa a chorar, enquanto balbucia novas explicações e justificativas. Você instintivamente se comove, tem o reflexo de abraçá-lo, mas logo se dá conta de que, se existe uma vítima nisso tudo, ela é você. Duas grandes e densas gotas de lágrima caem dos seus próprios olhos. E você diz: "É isso. Não há mais o que conversar ou argumentar". Você ainda olha para ele por mais alguns instantes. Em seguida levanta-se da mesa e vai para o quarto. Lá, tranca a porta e, só então, se permite extravasar toda a mágoa acumulada, desmontando-se num choro longo e convulsivo.

FIM

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