Você dá uma bofetada em Mariana. A força do impacto faz sua ex-amiga desequilibrar-se e cair no chão. Você começa a gritar frases desconexas, uma mistura de palavrões, lamentos e provocações. Mariana não demora a entender que você sabe do caso dela com seu marido. Ela está tão desorientada que nem tenta argumentar. Com um filete de sangue escorrendo da boca, Mariana se levanta e vai embora, tropeçando, os ombros encolhidos como que tentando se proteger. Você vai atrás dela, acompanhando-a de perto até a calçada. Mariana faz sinal para um taxi, que pára. Ela tenta entrar no veículo com tanta pressa que bate com a cabeça no teto e machuca o pé ao fechar a porta. Você solta uma gargalhada e urra: "Está vendo? Isso não é nada para o que você merece, sua puta nojenta!" E continua a gritar, como uma louca, enquanto o taxi some na distância. Grita como se quisesse que o mundo inteiro soubesse do seu sofrimento. Você olha para as janelas dos edifícios ao redor: estão cheias de gente olhando. São seus vizinhos, gente que você encontra todo dia, gente perplexa, gente triste, gente rindo do seu descontrole. A idéia de parecer rídicula só lhe dá mais combustível para seu desabafo. Você enfrenta, chama para brigar, ri, chora, xinga aquela platéia inusitada, agride o ar com palavras duras. Até que, exausta, você pára de falar. Só a cidade fala, agora. Ao seu redor, o barulho familiar e monótono de todos os dias. Você permanece ali, parada na calçada, olhando para lugar nenhum. Exposta ao mundo e a si mesma, você finalmente se dá conta de que perdeu, para sempre e de uma só vez, duas das pessoas que mais amou em toda a sua vida.

FIM

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