E você não perde tempo. Olha para Mariana e diz: “Eu sei que você e meu marido estão tendo um caso”. Mariana arregala os olhos e fica nitidamente perturbada. A única coisa que ela consegue dizer é: “Se importa se eu fumar?” Você não se importa. De algum modo você se sente mais forte ao ver Mariana tentando conter o pânico que está tomando conta dela. Você começa a falar, pontuando vários temas: amizade, lembranças, escola, sonhos, casamento, família, traição, dor, sofrimento, desorientação, futuro incerto, uniões desfeitas para sempre. As palavras vêm surpreendentemente bem organizadas, como se todas aquelas semanas de anestesia e isolamento tivessem servido para esclarecer tudo dentro de você mesma. Mariana ouve tudo e mesmo quando você termina, ela não tem nada a dizer. Quando constata que era o momento dela dizer alguma coisa, ele levanta-se trêmula e segue na direção da porta. Você permanece sentada, olhando. Antes de sair, Mariana se vira, tímida e diz um quase inaudível “desculpa”. E vai embora. Você vê a porta se fechar e se emociona com os ecos da imagem de Mariana antes de sair, uma mulher adulta, encolhendo-se envergonhada, pedindo desculpas como se não tivesse mais que dez anos de idade. Você se emociona, não porque sente pena dela ou de si mesma. É que você lembrou de um passado bonito e feliz que pareceu se desfazer, na imagem daquela porta se fechando.

FIM

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