Você respira fundo e tenta se acalmar antes de prosseguir. Então diz a seu marido que aquele é o tipo de limite que se ultrapassa e não há mais possibilidade de retorno. Ele reage imediatamente. Fala sem parar, negando, inventando mentiras. Você observa e conclui que não há mais nada a ser dito, que qualquer tentativa de diálogo naquelas circunstâncias será inútil e desgastante. Ele implora: "Diga alguma coisa". Você responde: "Sabe porque dói tanto? Porque por trás do ódio que estou sentindo, eu sei que amo muito vocês dois. Por isso dói. Dói demais". Os olhos de seu marido se enchem de lágrimas. Você levanta e sai dali às pressas, enquanto ele tenta lhe segurar. "Me solte, Ricardo. Me solte. Acabou." Ele tenta lhe abraçar, você gira o corpo e se afasta. Ele se encosta numa parede e deixa-se escorregar até sentar no chão. Como uma criança, aquele homem cruza os braços sobre os joelhos e esconde o rosto, chorando aos soluços. Atordoada, você sai dali, corre para seu quarto, tranca a porta e joga-se na cama. Pega um dos travesseiros, abraça-o e se encolhe, enroscando-se, como se quisesse sumir em si mesma. Fica assim por alguns instantes e, só então, como a comporta de uma represa que se abre, extravasa toda a mágoa acumulada, desmontando-se num choro longo e convulsivo.

FIM

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